sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Capítulo 3 -Final

— Vá, experimente — encorajou ela, e Pâmela abriu a porta. Vanessa apressou-se a ajudá-la a descer, e logo Pâmela corria para os brinquedos. Os brinquedos eram grandes e sólidos, e Vanessa sorriu, ao ver Pâmela escorregar uma, duas, três vezes, sem cansar da brincadeira. A menina correu para o balanço, experimentando-o, até ver a caixa de areia, cheia de brinquedos. Ela sentiu a presença de alguém, e viu que Billy se aproximara.

— Vou levar as malas para cima — disse, estendendo a mão para pegar as chaves. Ela entregou-as, mas não se mexeu.

— Ela parece com ele — disse, suavemente. E Vanessa observou Pâmela, imaginando o quanto seria parecida com o pai.

De repente, Pâmela saiu correndo para eles e parou em frente de Billy, observando-o atentamente. Vanessa percebeu que ela imaginava que Billy fosse o pai. Ela apresentou-os, e viu o sorriso da criança desaparecer.

— Como vai, senhorita? — Billy agachou-se na frente da menina, e os velhos joelhos estalaram.

Pâmela olhou com surpresa os jeans reforçados nos joelhos.

— Dói?

— Não. Só faz barulho.

— Meu pai foi ferido. Muito ferido.

— Sim, meu bem.

— Conhece o meu pai?

— Claro que sim.

— Acha que ele vai gostar de mim? — A voz dela tremia, e Billy trocou um olhar com Vanessa.

— Sim, princesa. Ele vai gostar muito.

— Mas onde ele está?

Billy endireitou-se e olhou para as janelas, no alto do castelo.

— Lá em cima.

Pâmela ficou ao lado dele, olhando para o alto.

Zachary olhou para a filha, e amou-a de imediato. Ele a vira brincando, os cabelos tão escuros quanto os dele, os olhos da mesma cor. Ela também tinha o mesmo sorriso. Como devia ter sido difícil para Tânia, olhá-la todos os dias, e vê-lo à sua frente, pensou, aproximando-se mais da janela.

Pâmela ergueu o braçinho e acenou, e Zachary desejou descer correndo para apertá-la nos braços, dizer o quanto a amava, como iria protegê-la e como estava feliz em tê-la ali. Mas não podia.

Mantendo-se um pouco afastado, acenou, o olhar desviando-se para Vanessa. Ela também olhou, apoiando-se no carro, de braços cruzados. O olhar dela dizia tudo, que deveria vir e brincar com a filha, e acima de tudo, indagava como podia resistir à criança? Será que ela não entendia como gostaria de descer? Como gostaria de estar ali, abraçando-a e fazendo com que esquecesse toda dor? E que ficar longe dela o feria mais do que à própria filha?

Billy já estava entrando com as malas, e Vanessa dizia algo para a menina. E quando Pâmela segurou a mão de Vanessa, quase esmurrou a janela. Devia ser eu. Pâmela, era filha dele.

Vanessa preparou o almoço para Pâmela antes de subirem para o quarto, imaginando que depois de ver as coisas maravilhosas que o pai preparara perderia a fome. Depois, disse à menina que o quarto dela era em frente ao seu, do outro lado do corredor, e que poderia ir até lá quando quisesse, de dia ou à noite. Enquanto desfazia as malas, Pâmela examinava os brinquedos, o enorme urso de pelúcia, quase do tamanho dela. Ao subir na cama, apertou urso contra o peito.

— Está com medo? É muito alta? Pâmela olhou-a diretamente.

— Não. — Ela parecia deslumbrada, e bocejou. — E tão lindo.

— É mesmo. Eu gostaria de ter tido um quarto assim, quando era da sua idade.

— E que tipo de quarto você tinha?

— Era pequeno e escuro — respondeu Vanessa, continuando a arrumar as coisas.

— E eu o dividia com minhas irmãs. — Ela não disse que o telhado era de zinco, e que gotejava forte quando chovia, muitas vezes sobre a cama.

— Irmãs?

— Tenho duas, mas são casadas — explicou. Eram mais novas do que ela, pensou, sentindo uma pontada de inveja. Ela quase se casara com o homem errado. Um homem que a desejara apenas pelo rosto bonito, pelos títulos de beleza, como o ouvira dizer ao padrinho. Queria mostrá-la como um troféu, e continuar com a amante.

Vanessa fechou os olhos, afastando o sentimento de humilhação. James fora o ponto culminante de uma vida em que todos viam apenas sua aparência. Sabia que também era responsável por isso, já que participara de muitos concursos, desejando usar os prêmios para conseguir uma vaga na faculdade, e construir uma carreira. Ainda assim, acreditara que ele a amava, e quando o sonho se desmanchara, tinha perdido muito mais do que o noivo. Perdera a auto-estima, já que James lhe dera tudo o que podia desejar, como se desejasse comprá-la. Tudo, menos amor.

— Talvez possa conhecê-las — disse, por fim. — Minha irmã, Jolene, tem uma filha pouco mais velha do que você. — Quando não teve resposta, Vanessa virou-se e viu Pâmela adormecida, agarrada ao enorme urso. Sorrindo, ajeitou um travesseiro sob a cabeça da menina, tirou-lhe os sapatos, e cobriu-a com um acolchoado.

Pâmela suspirou, mostrando que o dia fora longo demais para uma menina tão pequena.

Beijando-a na testa, desligou as luzes e saiu, fechando a porta.

Imediatamente sentiu a presença dele e virou-se para a escadaria, no fundo do corredor. Na semi-escuridão podia ver-lhe as pernas, dos joelhos para baixo, e a mão, apoiada no corrimão.

— Ela está bem?

— Sim, mas está exausta, e adormeceu.

— Obrigado, Vanessa.

— Por nada. Ela quer vê-lo.

— Sabe que não posso fazer isso.

— Ela precisa do pai.

— Vanessa... Por favor.

A dor, por negar a si mesmo o contato com a filha, expressava-se na voz dele. Naquele instante, Vanessa percebeu o quanto aquele homem era solitário, e como devia ser difícil ter duas mulheres naquela casa, depois de ter andado por ali, quando e como desejasse, por quatro anos.

— Ela está se sentindo sozinha e com medo. Tudo é novo para ela, e embora esteja adorando as novidades, ainda quer vê-lo.

— Mas não pode. Não quero amedrontá-la ainda mais. E não sei nada sobre garotinhas, ou como cuidar delas. Mas você sabe.

Ela não queria discutir, não com Pâmela tão perto.

— Não vou ficar aqui para sempre — retrucou, entrando no próprio quarto e fechando a porta.

Edward suspirou. Ela continuaria ali por quanto tempo ele desejasse, e só de pensar que poderia partir, ficava nervoso. Ele observou as pequenas luzes junto ao chão, que iluminavam o corredor, e a porta do quarto da filha. Não queria que nenhuma das duas o visse, mas a vontade de ver a filha foi mais forte. Descendo os últimos degraus, atravessou o corredor e abriu a porta do quarto de Renesmee, entrando silenciosamente. Bem devagar, aproximou-se da cama, olhando a criança adormecida. Parecia tão inocente, tão indefesa. E era tão pequena.

Estendendo a mão, tocou uma mecha de cabelos, e então, incapaz de resistir, acariciou o rosto macio com as costas da mão. A pele era macia, fresca. Ela era linda, e o coração de Zachary apertou-se. Queria tomá-la nos braços, beijá-la.

— Papai?

A palavra quase o fez chorar.

— Sim, princesa, estou aqui. Volte a dormir.

Pâmela mexeu-se na cama e Zachary cobriu os ombros delicados, carinhosamente.

— Papai ama você — sussurrou.

Meio adormecida, Pâmela segurou a mão dele. Por um instante, Zachary ficou imóvel, temendo que ela percebesse as fundas cicatrizes no pulso, mas já voltara a dormir.

Não querendo arriscar-se a encontrar Vanessa, pensou em usar a passagem secreta, mas a raiva foi mais forte. Afinal, aquela era a casa dele. Saindo do quarto, subiu a escada, e já estava quase chegando em cima, quando Vanessa abriu a porta e saiu depressa.

Apressando o passo, ele penetrou na escuridão, sabendo que os olhos dela levariam alguns segundos para ajustar-se à falta de luz.

— Sr. Efron — chamou, suavemente. Imediatamente sentiu-lhe o perfume e estremeceu.

— Sr. Efron. Ele parou.

— Estou ignorando você. Indo embora. Será que não entendeu?

— Psiu. — Ela aproximou-se. — É claro que percebi.

— Não dê nem mais um passo.

— O que vai fazer? Me despedir? — perguntou, sabendo que ele não poderia fazê-lo

— Há outros modos de fazê-la ficar longe — disse, ao vê-la desobedecer, aproximando-se ainda mais.

— Por exemplo?

— Deixá-la ver meu rosto.

— Não tem uma boa impressão a meu respeito, não é? — sussurrou ela, olhando fixamente para a sombra, onde ele se escondia.

Havia compaixão na voz dela, talvez piedade.

— Pelo contrário. Tenho uma impressão boa demais. Zachary deu um único passo, aproximando-se perigosamente, e o calor do corpo alto penetrou instantaneamente as roupas dela. O desejo de apoiar-se nele era muito forte, e o modo como seu corpo respondia ao dele fazia imaginar que já o conhecera em outra vida, outros tempos. Era como uma fome, um desejo incontrolável. Mas não podia. Já fora usada antes por sua beleza, e ali estava um homem que desejava usá-la, novamente, só que desta vez como uma barreira entre ele e a filha.

— E tem raiva por precisar de mim. Desejaria que fosse outra pessoa, não é?

— Sim — sibilou ele, como uma serpente pronta para o ataque. — Vejo seu rosto, perfeito, e sinto cada cicatriz, como se tivesse acontecido ontem. — A voz dele tornou-se ainda mais baixa. — E então sinto como sua respiração acelera quando me aproximo, sinto seu corpo pulsar, como agora e...

As palavras saíram antes que pudesse controlá-las.

— Faz você sentir-se como um homem, não um heremita.

Ele gelou, como se cada músculo do corpo estivesse paralizado. O desejo de tocá-lo era tão forte, que mal podia resistir.

— Zachary...

A palavra pareceu despertá-lo. Virando-se depressa, subiu a escada, de volta ao santuário.

A porta batendo foi como um tiro no escuro, fazendo-a recuar contra a parede, cobrindo o rosto.

Agora ele não viria mais para a luz. Estragara tudo.


Fim do capítulo III.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Capítulo 3

— Olá, sou Vanessa.

— Olá — respondeu a garota, sem mostrar o rosto. Katherine afastou-se um pouco, forçando Pâmela a fitá-la. Vanessaa sentou-se no chão, com as pernas dobradas sob o corpo, como se tivessem todo o tempo do mundo.

— Foi uma semana bem difícil, não é?

— Sim.

— Bem, agora vou cuidar muito bem de você, Pâmela. — A menina ainda parecia pouco à vontade. — Eu prometo. Sei fazer uma porção de coisas. Podemos brincar na praia, andar de bicicleta, e talvez andar a cavalo.

A idéia pareceu agradar, e Pâmela rezou, baixinho, para que ainda se lembrasse de como cavalgar.


— Seu pai tem três cavalos, e não acho que façam muito exercício. Teremos que cuidar deles.

— Viu meu pai?

A esperança na voz da menina fez o coração de Vanessa se apertar.

— Sim. Ele é muito simpático.

— Mamãe disse que ele foi ferido.

— Sua mãe tinha razão. Foi sim. Mas agora está bem. — Não pretendia assustar a menina com detalhes assustadores. — Só não gosta que fiquem olhando para ele.

As sobrancelhas de Pâmela ergueram-se, como se estivesse tentando entender por que não queria que olhassem para ele, se estava bem. Vanessa pretendia adiar o encontro dos dois, até que Pâmela estivesse acomodada e à vontade.

— Então, está pronta para ver sua nova casa?

Pâmela assentiu, mastigando a ponta do suéter que vestia. Vanessa estendeu a mão, tirando-o delicadamente da boca da menina.

— Fale. Não consigo ouvir o que está dentro da sua cabeça. A garotinha quase sorriu.

— Sim, senhora.

— Vai adorar, Pâmela. É um castelo, como o da Cinderela.

— Verdade?

— Verdade.

Vanessa levantou-se e estendeu a mão. Pâmela olhou para Katherine, suspirou, e então segurou a mão de Vanessa, que mal pôde esconder a alegria.

— Não gostaria de vir até a casa? — convidou. — Tomar um café, antes de pegar a outra balsa? — Algumas pessoas já passavam por elas, a caminho do barco.

Katherine sacudiu a cabeça.

— Acho melhor deixar que se conheçam melhor. Telefono mais tarde.

— Gostaria que fizesse isso — e, baixando a voz, completou: — Já que não há nada de temporário neste trabalho, e sabe bem disso.

— Ele precisa dela, Vanessa.

— Eu sei, mas... — Olhando para baixo, viu que a garotinha as observava, curiosa. Vanessa trocou um olhar com Katherine, indicando que poderiam conversar melhor ao telefone. Katherine sorriu, e inclinou-se para beijar Pâmela.

— Você vai ficar bem Pâmy. — disse Katherine abraçando Pâmela.A criança passou os braços em volta do pescoço de Kat, agarrando-se com força por alguns instantes. O coração de Vanessa apertou-se. Como devia sentir-se insegura e amedrontada, sendo Katherine a única pessoa que conhecia.

Kat acariciou as costas da menina, dizendo que a amava muito, e logo viria visitá-la. Pâmela soluçou, correndo para Vanessa, assim que Katherine soltou-a. Com um sorriso, Vanessa levou a criança até o carro, colocando-a no banco da frente. Depois de acomodar-se atrás do volante ligou o motor.

— Pronta?

Pâmela olhou-a com os olhos muito azuis e assentiu, mordiscando a ponta do suéter. Vanessa percebeu o brilho das lágrimas e inclinou-se, abraçando-a e sussurrando:

— Tudo vai dar certo, querida. Sei que está com medo. Os dedinhos delicados apertaram-na com força.

— Quero ir para casa.

Os olhos de Vanessa encheram-se de lágrimas. A menina parecia tão triste e perdida.

— Vou levá-la para casa, e será uma grande aventura descobri-la aos poucos. Não acha que vai ser divertido?

Pâmela deu de ombros, e Vanessa acariciou os cabelos brilhantes.

Tinham um longo caminho a percorrer juntas, e imaginou por quanto tempo ficaria ali. Ou se algum dia desejaria partir. Pois percebia que estava começando a amar aquela garotinha perdida.

No instante em que a casa apareceu na frente delas, Vanessa percebeu que Pâmela prendia a respiração, maravilhada, esticando o pescoço para ver melhor. Vanessa dirigiu pela estrada de terra, cheia de lombadas, até chegar à garagem, esperando que a vista da praia, do estábulo enorme e do grande jardim atraíssem Pâmela. E aconteceu, especialmente por causa do escorregador e do balanço, que não se encontravam ali no dia anterior. Parando o carro, desligou o motor.